
O que você pensa quando ouve alguém dizer que nós devemos ser hospitaleiras? Já fica logo imaginando todo trabalho que vai ter ao receber pessoas em sua casa e a bagunça que ficará? Quanto vai ser seu gasto adicional, ou o tamanho da sua incapacidade de fazer uma bela mesa posta? Pois então, lhe convido a pensar na hospitalidade sob uma nova ótica: o amor na prática!
Em várias passagens, o Senhor nos ordena a sermos hospitaleiras:
“Sejam mutuamente hospitaleiros, sem reclamação.” – 1 Pedro 4:9
“Alegrem-se na esperança, sejam pacientes na tribulação, perseverem na oração. Compartilhem o que vocês têm com os santos em suas necessidades.” – Romanos 12:12-13
“Seja constante o amor fraternal. Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns acolheram anjos.” – Hebreus 13:1-2.
Mas muitas vezes pensamos na hospitalidade como algo opcional, ou apenas como um conselho bonito que algumas mulheres mais talentosas e com tempo de sobra podem colocar em prática. Isso é um engano! Ser hospitaleiro é obedecer a Deus e colocar o segundo mandamento em ação. Nossas casas não são apenas nossas, para que vivamos de uma maneira tranquila, elas nos são dadas para que exerçamos os mandamentos do Senhor, sendo que amá-lO e glorificá-lO é o primeiro, e amar o próximo com a intensidade que nos amamos é o segundo. A palavra hospitalidade significa amor aos estranhos. Você colocá-la em prática é como colocar seu amor ao próximo em prática, à vista dele, testemunhando o amor do próprio Senhor.
Interessante que quando observamos as escolhas que fazemos diariamente, vemos que a maioria delas não envolve o amor aos próximos que não sejam nossos familiares com quem dividimos o teto (isso quando pensamos neles e não apenas em nós…). Essa pequena observação nos revela muito do nosso coração. Nós não temos tempo para o próximo estabelecido por Deus – as pessoas que o Senhor coloca na nossa vida, sejam irmãos em Cristo, vizinhança ou até estranhos.
Nós não temos somente a falta de tempo, mas nos falta vontade, desejo, qualquer sentimento de misericórdia e amor às pessoas. Nossas ações e escolhas diárias demonstram isso. O Senhor Jesus nos ensinou qual é o padrão do amor pelo próximo: entregar sua vida. Mas não estamos dispostos a entregar nem algumas horas de nosso dia, nem alguma parte do nosso orçamento, muito menos nossa própria vida, não é mesmo?
Tudo o que temos é presente do Senhor, e nosso papel nessa terra é proclamar Seus grandes feitos e honrá-lO com nossas vidas para que Ele seja glorificado. Então, como podemos sequer pensar que a nossa casa e as nossas posses não devem ser usadas para cumprir nosso papel? É simplesmente urgente entendermos que é tudo do Senhor, porque então mudaremos a forma como encaramos o cotidiano.
A hospitalidade é uma demonstração de relacionamento profundo e verdadeiro com o Senhor. Somente quando nos enchemos do amor, do conhecimento e da graça do Senhor, nos é possível transbordá-los ao próximo, amando como Cristo amou.
Quantas vezes deixamos de cuidar, consolar e encorajar alguém por que nos fechamos em nossas casas? Sim, eu sei, é arriscado! Ao abrir nossa casa, também abrimos nossa vida, dando acesso ao mais íntimo da nossa família, pois nas nossas casas é onde tiramos as máscaras e onde somos realmente conhecidos. Abrir a nossa casa é sério e arriscado, mas é uma ordem dada por Deus e cumpri-la é simplesmente libertador! Viver com os outros à mesma mesa, partilhando da vida e do que se tem, é um relacionamento realmente profundo e frutífero.
A mulher que sou hoje foi muito influenciada pelo meus pais que sempre tiveram sua casa aberta, e pelas muitas pessoas que passaram por nossa casa, mesmo quando não era conveniente ou fácil. Quantas histórias incríveis do amor e do livramento do Senhor eu ouvi dos nossos convidados? Quantas lágrimas foram derramadas e quanto amor foi demonstrado?
Eu presenciei o esforço dobrado da minha mãe, o gasto maior quando não tínhamos qualquer condição para supérfluos, noites servindo aos outros mesmo quando meus pais estavam tão cansados, e posso garantir: que lição preciosa para mim enquanto criança! Eu vi o que é realmente viver a hospitalidade! Mesmo quando precisávamos dar nossos quartos para as visitas e dormir juntas num mesmo quarto (somos em 5 irmãs), só tenho boas lembranças e percebo como esse pequeno ato ajudou a formar meu caráter.
Uma hospitalidade radicalmente simples
Vou emprestar o termo hospitalidade radicalmente simples que aprendi com Rosaria Butterfield, em seu livro “O Evangelho e as Chaves de Casa”, onde ela descreve de forma muito bela e profunda, a forma como a hospitalidade radicalmente simples pode ser vivida na casa de cristãos que desejam amar ao Senhor e ao próximo com tudo o que têm. Fui extremamente encorajada por suas palavras e gostaria de encorajá-las também!
Comece a ver a hospitalidade como uma forma de vida, e procure tirar os adereços desnecessários que colocamos nela, de forma a torná-la simples e eficaz! Você não precisa ter itens de mesa posta, não precisa saber fazer comidas chiques, nem precisa ter uma casa de revista. A única coisa que realmente precisamos é um coração salvo por Cristo disposto a amar as pessoas. Hospitalidade não é a arte de receber, é a arte de amar!
A partir disso, abra seus olhos e procure quem precisa de você. Veja o que diz esse belo trecho de Salmos:
“Deus faz que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca.” Salmos 68:6
Quem é o solitário à sua volta? Faça da sua a família dele também. Qual irmão está precisando de encorajamento? Leve-o à sua casa e cresçam juntos. Qual vizinho que precisa ouvir do evangelho salvador? Convide-o para um café e dê seu testemunho. Qual família está com necessidade? Faça algumas refeições gostosas e leve a eles, junto com conselhos animadores vindos da Palavra!
Pare de colocar entraves, e simplifique. Se você só tem os fins de semana, escolha 1 sábado por mês, e em vez de sair para passear, convide irmãos que não tem muito contato para um café no meio da tarde. Se sua casa é pequena, convide 1 pessoa por vez, ou escolha se reunir numa praça perto da sua casa para que várias crianças brinquem juntas e você tenha tempo de qualidade com as mães. Se seu orçamento não aguenta uma refeição para mais pessoas, chame as pessoas para se alimentarem da Palavra e seja ouvido atento aos seus anseios.
Hospitalidade é amar aos estranhos, sacrificialmente, com aquilo que se tem. O que você precisa para praticá-la, o Senhor já te deu. A força e o resultado também dependem dEle, então, levante-se e comece hoje!
Que Deus nos ajude a transformarmos nossos lares e nossas rotinas para vivermos uma hospitalidade radicalmente simples, e levarmos mais pessoas aos pés dEle, para sua honra e glória! Amém!