
Da perspectiva de uma jovem, que passou pela experiência do divórcio de seus pais quando tinha apenas 8 anos de idade, quero aprofundar esse tema ao trabalhar as dificuldades enfrentadas pelos filhos dos casais que se divorciam e contar o que Deus me ensinou com a experiencia de crescer em um lar com pais divorciados. Meu objetivo, além disso, é de ajudá-las a lidar com o problema, entendendo biblicamente como glorificar a Deus nesse cenário e construindo a ideia correta do significado do casamento que Deus planejou para cada um de nós.
Desde que a Queda ocorreu no Éden (Genesis 3), o pecado dominou o coração de Adão e Eva e distorceu a imagem e semelhança de Deus refletida em nós, afetando todos os relacionamentos, ainda mais a relação de maior intimidade de todas: o casamento. O maior problema de todos é o egoísmo: ele nos cega para não vermos o perdão e a graça de Cristo, impedindo-nos de amar com paciência, bondade, fidelidade e sacrifício. O resultado disso é destrutivo, envolve dificuldades, dores e tristezas.
Apesar de ser um fato muito comum nos dias de hoje, o divórcio não tem a ver com o plano de Deus para nós, não tem a ver com o Evangelho. Quando partimos da definição bíblica de casamento, baseada na aliança e na promessa firmada entre os conjugues para expressar a decisão prioritária de amar um ao outro, espelhando o amor sacrificial e incondicional de Cristo por nós, concluímos que o divórcio significa o contrário da essência e do projeto perfeito de Deus, expondo o coração corrupto e pecaminoso do ser humano.
Sempre haverá pecado um contra o outro, todos pecamos e carecemos da graça de Deus. Sem o evangelho vivido no dia a dia do casamento, as duas cabeças pensam, sentem e desejam coisas diferentes, acreditando em muitas mentiras desse mundo que nos escravizam no “eu”. Elas creem em doutrinas distorcidas em relação ao padrão divino, o que, somado ao não buscar o que Deus espera de cada um como homem e mulher que refletem o plano redentor do Criador, geram conflitos atrás de conflitos, até que a promessa é quebrada e a união é destruída.
E a história não se resume apenas nas duas partes da aliança rompidas. Podemos dizer que, em praticamente todos os divórcios, existem mais do que dois corações quebrados: famílias inteiras sofrem, especialmente os filhos dos casais divorciados. A desunião, conflito, separação e discórdia sempre estarão presentes na perspectiva de um filho que vivenciou o divórcio dos pais.
Várias são as questões que essas crianças e até filhos adultos precisam enfrentar. Elas vão desde ouvir as palavras ásperas que o coração magoado que um dos pais profere um contra o outro até os momentos comemorativos onde a presença simultânea do pai e da mãe no mesmo ambiente não é possível ou gera um clima ruim e totalmente desconfortável. Se tornando um motivo de tristeza até os momentos que deveriam ser repletos de felicidade.
Em conversas com os filhos, os conjugues divorciados relembram as brigas do passado e comentam sobre os erros e defeitos um do outro, exaltando aquele com quem se casou pela segunda vez (se for recasado) e esquecendo que a pessoa que estão criticando continua sendo a mãe ou o pai do seu filho.
Normalmente é difícil os pais magoados conseguirem se colocar no lugar de seus filhos e verem as dificuldades que também passam ao terem que dividir seu tempo ou com a mãe ou com o pai. O resultado de ter que sempre escolher um… ou outro pode colocar o filho em uma situação desesperadora, na qual não há saída. Se escolher um lado, chateará o outro, vivenciando uma insatisfação e uma guerra incessante entre os pais. Além, da discussão financeira sobre pensão alimentícia e sustento dos filhos é complicada, uma vez que será mais uma causa para que a discórdia persista e interfira no dia a dia da criança/jovem em questão.
Diante desse cenário complicado, os filhos que enfrentam o divórcio dos pais e lutam contra essas e demais dificuldades envolvidas podem desanimar e viver culpando sempre os pais como uma forma de refúgio de sua dor em relação a circunstância. No entanto, essa não é a solução, não é o que Deus quer que eles façam.
Alguns textos bíblicos que podem ajudar a lidar com essa situação, caso você esteja nessa condição de filho de pais divorciados ou queira ajudar alguém que está lutando com esses sentimentos, ajudam-nos a perdoar, afirmar o poder transformador de Deus nos corações de cada um e recordar que devemos sempre honrar nossos pais.
“Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou.” Colossenses 3:13
“Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer.” – Provérbios 21:1
“Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.” – Êxodo 20:12
“Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel…” – Malaquias 2:16
Mesmo vendo todos os erros dos seus pais divorciados, Deus pede a nós que os perdoemos e amemos, uma vez que Deus nos amou e perdoou nossa dívida infinita contra a santidade infinita dEle. Nós merecíamos a condenação eterna, mas o nosso Pai perfeito nos deu graciosamente a redenção e glorificação eterna com Seu perfeito Filho Jesus Cristo.
Se Deus permitiu que você enfrentasse essa circunstância, Ele o capacitará para enfrentá-la e para honrá-Lo em tudo. O mesmo poder que atuou na cruz para Cristo vencer a morte e ressuscitar é o poder que atua em nós para perdoarmos, honrarmos nossos pais e glorificar a Deus com toda nossa vida.
Como é bom sempre recordarmos que Deus tem todo o controle da história em Suas mãos. Se você está sofrendo com um contexto como esse, lembre-se de que tudo aqui é passageiro e Deus irá um dia enxugar todas as nossas lágrimas. Mesmo que você não tenha a família e o amor dos seus pais que sempre sonhou, Deus é seu Pai perfeito e amoroso, que se importa com você e quer que você O reflita em todo tempo. Reflita o perdão e o amor dEle, em especial, para seus pais e para sua família.
Não desanime, mas espere o tempo e a transformação de Deus, Ele tem todos os corações em Suas mãos e pode restaurar os seus pais, fazendo-os perdoar o ex-cônjuge e entender a sua difícil posição como filho dos dois. Descanse e coloque toda sua confiança e esperança no Deus Todo Poderoso.
Algo importante a ser mencionado é o fato de que o seu casamento não será igual ao dos seus pais. Com a situação que você vivenciou de perto, você terá uma maturidade ainda maior para enxergar o caráter do seu pretendente, poderá conversar com ele sobre atitudes que não devem ser praticadas e sobre as drásticas consequências delas.
Outro aprendizado importante é não nos acharmos superiores, achando que você não cometeria o mesmo erro dos seus pais no casamento, principalmente se você ainda não casou e não vivenciou as dificuldades de se unir a um pecador no relacionamento mais íntimo que alguém pode ter nessa terra. Nunca se esconda nem justifique seus defeitos e pecados por causa do divórcio. Além disso, não use a desculpa de ser do jeito que você é por não ter tido uma figura feminina ou masculina exemplar em casa.
Invista tempo crescendo em Deus e conhecendo melhor o ideal Dele para o casamento e para a família, conhecendo o pecado do seu coração e dispondo-se diante do Pai para também ser transformado. Todos precisamos do Senhor! Deus nos dá a igreja de presente como família dEle e ali nos permite termos excelentes exemplos de esposa, mãe, marido e pai, conforme a vontade e manual do Criador do casamento e da família. Abra o coração, conte e converse sobre todas as suas dificuldades e dores com alguém maduro na fé, que possa caminhar junto com você, te aconselhar sabiamente, chorar e orar com você. Você não está sozinho, Deus colocará pais espirituais ao seu lado para te ajudar sempre.
Um desafio que quero deixar para você, antes de concluir, é que você use essa situação para a glória de Deus, sendo usado por Ele para abençoar os seus pais com a forma que você encara tudo isso. Busque refletir a Deus em cada palavra e em cada decisão que tomar.
Dizendo não ao seu egoísmo, faça de tudo para colocar as necessidades dos seus pais à frente das suas, negando-se a si mesmo como Cristo fez por você. Boas práticas que podem ajudar são: seja um agente pacificador entre seus pais, não apimentando mais o conflito; dê atenção a eles, ouça, converse com eles mansamente e com todo o coração; não os acuse pelos erros do passado e presente, mas os ame de forma sacrificial, compartilhando desse amor também com madrastas e padrastos que ganhar, e, em tudo… pregando o Evangelho que restaurou nosso relacionamento com o Pai e nos uniu eternamente a Ele.
De uma jovem querida de nossa igreja.