
Gosto muito de acompanhar a série The Crown, da Netflix. Quantas situações interessantes aconteceram na família real. E uma delas me fez pensar sobre algo; o contentamento.
Esse episódio é da terceira temporada (então desculpe por alguns spoilers haha). Em 1969, o mundo estava fissurado em frente aos televisores esperando o momento do homem, pela primeira vez, pisar na lua! Um evento histórico e marcante para a humanidade. Não foi diferente com o marido da rainha, Phillip, que durante o episódio se mostrou empolgado com cada notícia sobre os astronautas que eram os heróis do mundo naquele momento.
Sabemos que Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin, conseguiram cumprir a missão com sucesso e retornaram para a terra. Nesse retorno eles fizeram uma turnê por 22 países, comemorando seus atos heróicos. E claro, um desses países foi a Inglaterra a convite da rainha. Philip, empolgadíssimo com a visita dos astronautas heróis pede 15 min. para poder conversar com os homens, e obviamente ele consegue.
A cena é interessante, três homens comuns entram no Palácio de Buckingham e ficam anestesiados com o local, logo o duque entra para ter o momento tão esperado com eles, segurando uma folha cheia de perguntas sobre a missão que mudou a humanidade. Enquanto Philip olha para a vida daqueles homens, com até mesmo um desejo de ter vivido tudo isso no lugar (e você percebe esse sentimento ao longo de todo o episódio), os homens olham atônitos para o teto luxuoso da sala em que eles estão. Enquanto Philip pergunta sobre qual foi o sentimento e a visão que eles tiveram ao pisar na lua, ver a terra de longe, os homens estão impactados com o palácio.
Ao final da conversa, após Philip ter feito alguma de suas perguntas, os três homens pedem permissão se podem fazer perguntas também, Philip assim permite. E eles começam a perguntar: como é morar neste lugar? Como é ser marido da rainha? É verdade que aqui tem 1.000 quartos? Philip demonstra uma certa decepção nessa conversa com os homens que considerava serem heróis e apesar do foco do episódio não ser esse (aí você terá que assistir para saber haha) essa cena me fez pensar muito.
De um lado o marido da rainha acostumado a viver naquele castelo luxuoso, mas impressionado com a missão dos três astronautas. E de outro lado três homens que completaram uma das maiores missões da história, impressionados com aquele castelo luxuoso. (É claro que isso é uma série e pode ser que a realidade não tenha sido exatamente dessa forma).
A verdade é que também somos assim. A grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa. A vida dos outros é bem mais interessante do que a minha. Eu posso ir para lua, mas continuar encantada com um palácio, eu posso viver em um palácio e continuar querendo ir para a lua.
Somos descontentes com as nossas vidas. “O outro tem uma casa melhor do que a minha, como ele consegue viajar tanto e eu não? Quisera eu ter o mesmo emprego que ele…” E isso começa a dar brecha para outros sentimentos pecaminosos fluírem de nosso coração, como; a inveja, a ganância, a maledicência e etc.
Em 1Tm 6.6-8 Paulo diz: “De fato, a piedade acompanhada de satisfação é grande fonte de lucro. Porque nada trouxemos para este mundo, e daqui nada podemos levar; por isso devemos estar satisfeitos se tivermos alimento e roupa”. Esses versículos nos mostram um coração satisfeito, que entende que nossa vida de devoção a Deus é a fonte do verdadeiro lucro, e consequentemente, do contentamento.
Em Romanos 12.15a diz: “Alegrai-vos com o que se alegram”. Mas na prática isso não é tão fácil assim. Devemos pedir a Deus que nos livre da inveja pelo próximo, isso faz parte do verdadeiro amor: “O amor é paciente; o amor é benigno. Não é invejoso; não se vangloria, não se orgulha”. 1Co 13.4.
A verdade é que todos nós temos vidas diferentes. Não tem como eu ter a vida de outra pessoa, somos seres diferentes e criados com um propósito diferente. Mas todos os filhos de Deus, possuem apenas um chamado, e isso independe da classe social e do estilo de vida que cada um tem. Somos chamados a glorificar a Deus e espalhar o seu amor com nossas vidas. Para isso, Deus vai nos usar em diferentes contextos, para diferentes propósitos.
A falta de contentamento também nos leva à ingratidão. Se o meu olhar sempre está para a vida do outro eu esqueço de contemplar os milagres que Deus faz na minha própria vida! Em 1 Ts 5.18 diz: “Sede gratos por todas as coisas, pois essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”. E que não sejamos como o povo de Israel que se esqueceu das obras de Deus, como o salmista diz no salmo 78.11 diz: “esqueceram-se das suas obras e das maravilhas que lhes fizera ver”, mas que contemos as bênçãos que Deus nos derrama dia após dia.
Nesse mundo de milhares de postagens em que vivemos é tão mais fácil ver a grama do vizinho e desejar ela. Mas Deus não nos chama para isso. Se a sua missão for ir para lua ou morar em um palácio, ou mais provavelmente, nenhum dos dois haha, mas viver uma vida aparentemente comum, glorifique a Deus nela! Se satisfaça em Deus! Porque “Deus é mais glorificado em nós, quando somos mais satisfeitos nEle”. (John Piper).
Que não percamos isso de vista, para olhar para a grama do outro, mas que cultivemos um coração grato, amoroso, alegre e cheio de contentamento.