
Você já parou para pensar que o tamanho do seu guarda-roupas tem a ver com a sua vida espiritual? Que a quantidade de roupas que você tem pode indicar o quanto você confia em Deus?
O objetivo da indústria da moda, assim como de qualquer outra, é vender. Sendo assim, as atitudes tomadas pelas marcas que consumimos são para suprir as necessidades do cliente, e para ganhar mais lucro ainda, instigar vontades e criar necessidades não-tão-necessárias para vender muito mais.
Mas é claro que a culpa não está inteiramente sobre a indústria e seu modo de pensar, senão também sobre nós, as clientes, que mesmo sem estarmos essencialmente precisando de algo, compramos mesmo assim, porque o que já temos no guarda-roupas não nos satisfaz.
E essa insatisfação sobre o que já temos não se reflete somente no ato da compra numa loja ou site, mas também quando eu reclamo que “não tenho roupa pra ir”, quando eu invejo o look de outra pessoa, quando estou constantemente enchendo meus salvos do instagram e pinterest de fotos e fico imaginando o quão bom seria se tivesse aquilo da foto, porque na realidade, não acho que o que tenho é bom o suficiente, ou quando quero sempre comprar mais porque simplesmente já cansei das opções que eu tenho.
Paulo, em sua primeira carta a Timóteo, traz uma verdade muito simples:
“De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro,
pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar;
por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.”
(1Tm 6:6-8)
A piedade com contentamento dá mais lucro do que o consumo frenético. Nós não devemos buscar ter sempre mais posses porque se já tivermos o essencial, ou seja, “o que comer e com que nos vestir” devemos ficar satisfeitos. Mas como é difícil viver “só” com o que comer e o que vestir! É difícil porque estamos habituadas a ter muito. Muitas opções, muitos eventos, muitas responsabilidades, muitos compromissos… e a lista segue. Essencialmente não é errado termos muito, o perigo está em não ficarmos contentes com o que temos e querer sempre mais: “As roupas que tenho, até tenho em boa quantidade, mas o estilo não é bem o que eu quero, preciso comprar mais. As maquiagens que tenho até que são boas e tenho bastante opção, mas aquela sombra tom de marrom, aquele batom nude mais rosado… esses eu não tenho, preciso comprar mais. A loja estava com promoção de 70% de desconto, não tinha como não comprar 4 blusinhas. Passei na frente daquele bazar e simplesmente não aguentei e renovei meu guarda-roupas.”
Mais uma vez, não é errado termos todas essas coisas (porque é o próprio Deus que nos dá tudo isso, não tem como ser ruim). No entanto, nesses casos nós somos o problema. Nosso coração não se contenta com pouco. Nosso coração pecaminoso deseja sempre o melhor, o mais novo, o mais chic, o mais promocional… o mais… mais…
O autor desta carta foi alguém como nós, humano, pecador, mas que desde seu encontro com Cristo, sua vida tomou um rumo completamente diferente em todas as áreas, inclusive no que se refere às suas posses e seu consumo como podemos ver no tão conhecido trecho de Filipenses 4:11-13:
“Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.Tudo posso naquele que me fortalece.”
Paulo tendo muito ou tendo pouco, aprendeu que quem o satisfaz é Cristo! E que é possível suportar qualquer coisa porque temos Cristo e Ele é o Segredo de viver contente em toda e qualquer situação; com uma ou dez gavetas no armário.
O próprio Jesus também falou sobre consumo em Lucas 12:15:
Então lhes disse: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens”.
Devemos ter muito cuidado com a ganância e o desejo de consumir desenfreadamente. A continuação do texto de 1 Timóteo 6 trabalha como um paralelo às palavras de Jesus:
“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.”
(versículos 9 e 10)
O texto usa as palavras riquezas e dinheiro, mas podemos aplicá-lo às roupas ou a qualquer outro produto que consumimos. Aqueles que querem sempre comprar e possuir mais coisas caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos que levam à sua própria destruição. Porque ao amar as coisas, valorizamos mais as posses do que Aquele que nos provê com tudo. Entramos em idolatria! Aquilo que temos acaba sendo mais importante que o próprio Deus, caímos em promoções tentadoras, somos pegas de surpresa amarradas em armadilhas de dívidas de cartão de crédito, boletos incessantes, ou uma conta no vermelho todo fim de mês porque simplesmente não conseguimos nos controlar. Nos desviamos da fé no Deus provedor e idolatramos a provisão. Na falta (ou no que consideramos a falta, ou impossibilidade de comprar mais) nosso coração fica atribulado com muitos sofrimentos, e infelizmente, tudo isso por causa de nós mesmas.
Já que estamos perdidas, o que devemos fazer?
“Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão.”
(1 Tm 6:11)
Nossa responsabilidade como cristãs deve ser em primeiro lugar, fugir do consumo irresponsável e desenfreado. E então buscar a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão, que têm muito mais valor do que qualquer posse e são eternos. E quem nos capacita é o próprio Deus pelo seu Espírito Santo.
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não sejamos presunçosos, provocando uns aos outros e tendo inveja uns dos outros.”
(Gl 5:22-26)
Se somos mulheres de Deus, pertencentes a Cristo, nossos desejos, incluindo o nosso consumismo e o desejo por sempre ter mais estão crucificados com Ele. O Espírito Santo nos auxilia a não sermos presunçosas, gananciosas e invejosas. Mas a sermos piedosas, capazes de dominar a nós mesmas e contentes com a provisão do Pai, seja ela em grande ou pequena quantidade.
Em termos gerais, falar de consumismo pode assustar, e provavelmente poucas de nós consideram estar num quadro de consumo excessivo. Mas é claro que o consumismo não começa desenfreado. Como já vimos, o consumismo nasce da insatisfação com o que já temos, e neste sentido, garanto que não há quem escape.
E a insatisfação é algo muito grave porque é uma afirmação para o Deus provedor de que eu como Sua criatura e Sua serva considero que Ele me dá abaixo do que preciso. O descontentamento é uma ação rebelde contra Deus na qual discordamos que Ele seja suficiente e de que Ele seja fiel. Porque quando não estou satisfeita em Cristo estou dizendo para o próprio Deus que Ele é mentiroso e não cumprirá suas promessas de suprir minhas necessidades.
“Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.”
(Mt 6:31-32 mas recomendo que você leia todo o trecho entre os versos 25 a 33)
Paulo finaliza sua carta a Timóteo com essas últimas orientações:
“Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida.”
(1 Tm 6:17-19)
Mesmo que você não se considere rica, estas orientações já servem para você. Não seja arrogante por aquilo que você tem, nem coloque sua confiança em algo tão incerto e passageiro como uma muda de roupas, pelo contrário, coloque no Fundamento Estável de valor eterno. Confie em Deus que provê ricamente (note aqui que não é somente “para a nossa sobrevivência”) para a nossa satisfação. E esteja pronta para repartir com generosidade, Deus cumprirá Sua promessa de te dar a verdadeira vida.
Você está reclamando de armário cheio? Então:
- Abra seu armário e veja se há coisas que você não usa mais e poderia doar;
- Estabeleça um limite de comprar para não cair nas promoções tentadoras;
- Planeje suas compras para evitar comprar desnecessariamente: valorize peças de segunda mão, marcas pequenas e/ou marcas que tenham boas políticas éticas a favor do consumo sustentável.
Vamos tornar cada visita ao shopping/loja/bazar/site/rede social numa oportunidade de glorificar a Deus com nosso consumo, cada “abrir de armário” em um lembrete de agradecer a Deus pela provisão e cada gaveta aberta numa ocasião para repartir o que temos com generosidade.